Escrito e publicado por Rhuan M. E. Honório, psicólogo clínico / rhuanhonorio.com.br
A psicologia terapêutica tem a pretensão de substituir o sacerdócio católico?
Resposta:
Esta é uma questão comum a alguns católicos diante do problema da psicologia moderna. É verdade que a ética constitui um dos níveis epistemológicos da psicologia terapêutica, como explicamos neste artigo, e tudo o que um psicólogo pode fazer neste nível seria muito melhor feito por um sacerdote treinado na ética iluminada pela teologia e com suas graças de estado.
No entanto, há outra coisa de que trata a psicologia terapêutica que nunca foi disciplina da formação sacerdotal: a psicopatologia. É verdade que os sacerdotes poderiam ser treinados em psicopatologia, e também poderiam nisso ser melhores do que os psicólogos, mas haveria problemas práticos: os sacerdotes teriam tempo de acompanhar continuamente quadros psicopatológicos? São quadros que podem exigir encontros frequentes e, às vezes, encontros intempestivos.
E ainda haveria os problemas práticos próprios de nossa época: lamentavelmente, o número de sacerdotes diminuiu, e poucos são os sacerdotes devidamente treinados na ciência prática da ética, e poucas pessoas têm acesso a estes sacerdotes, e as que têm acesso normalmente não podem tê-lo com grande frequência. Assim, se os psicólogos não podem ser uma opção para atender a certas necessidades éticas ou psicopatológicas, haverá muitas pessoas que, podendo ser ajudadas por um psicólogo, ficariam privadas de qualquer ajuda.
Além disso, ao mesmo tempo em que o número de sacerdotes diminuiu, a frequência das psicopatologias (ou de seus traços) e o número de pessoas com certas deficiências éticas básicas aumentou. Naturalmente, tudo isso é uma consequência da diminuição do número de sacerdotes, junto com a consolidação das revoluções modernas, agora especialmente da revolução marcusiana (ou ideologia woke).
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Podemos imaginar que, se vivêssemos numa cristandade, não haveria muitas pessoas vivendo fora da razão (portanto, haveria menos deficiências éticas), haveria um menor número de quadros psicopatológicos, haveria um maior número de sacerdotes atendendo às necessidades éticas da população, e assim por diante. Talvez, nesse cenário, a necessidade dos psicólogos seria minimizada. Talvez eles não existiriam, e os quadros psicopatológicos — em número muito menor em razão da ordem social e familiar próprias de uma cristandade — seriam suficientemente tratados somente pela atuação de médicos especializados.
Poderíamos imaginar tudo isso, mas não podemos controlar quais serão as necessidades do nosso tempo. Assim, parece ser de bom senso que haja psicólogos atendendo necessidades éticas (dentro de certos limites) e psicopatológicas, desde que não pensem ser como sacerdotes e estejam conscientes de seus limites e de sua falta de autoridade. Os pacientes, por sua vez, devem ter consciência de que os psicólogos não têm graças de estado para dirigir suas almas como sacerdotes.
Naturalmente, essa resposta vale para os psicólogos treinados nas bases antropológicas realistas de Aristóteles e Santo Tomás, ou que tenham pelo menos intenções realistas e lutem para preservar o bom e velho senso comum.
Se me perguntassem, por exemplo, de Sigmund Freud em particular, eu responderia que este sim pretendia substituir o sacerdócio católico, como explica o P. Ignacio Andereggen nesta conferência.
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